The Royal Prince
To whom it may concern,
A inspiração, bem como o tempo disponível não tem abundado, mas de qualquer forma fui ao fundo do baú buscar este meu texto já quase perdido na minha memória.
Espero que gostem tanto de o ler como eu gostei de o escrever.
"O Jardim do Príncipe Real, situado na Rua da Escola Politécnica, como quem vem do Rato em direcção ao Chiado, ou vice-versa, é um local com dupla personalidade. Um autêntico local esquizofrénico, o Príncipe Real muda do dia para a noite.
De dia, o Príncipe, no meio de uma rua movimentada, entre prédios antigos de média estatura, emerge dum jardim no centro de Lisboa. O esverdeado das plantas e arvoredo mistura-se com o colorido das fachadas dos ministérios, universidades, instituições e casas, para dar a este local um colorido urbano raro nas cidades de hoje em dia.O típico quiosque, em que todos sabem o nome do proprietário mas que o usam sem grande responsabilidade; a feira de livros usados que teima em aparecer para conceder o charme de tempos perdidos Lisboetas; os jogos intensos e controversos dos velhotes nas mesas de jogo; o “brincar-na-areia” de algumas crianças sob o olhar atento das mães; os turistas maravilhados com o sossego e o retiro em pleno coração cosmopolita; os parquímetros “emelianos” guardados pelos “arrumadores”, uma dupla ameaça aos bolsos dos condutores.O Príncipe orgulha os Lisboetas, é local de referência, imponente como o próprio nome indica... de dia.
Ao final do dia, a transformação começa a ocorrer. As instituições fecham as suas portas, o quiosque encerra suas bancas, os velhinhos apressam-se para ver o Jornal Nacional da TVI, a mutação inicia-se - com o por do sol - mas só se completa quando a escuridão é uma realidade.
De noite, termina a alteração, o Príncipe vira sapo. O jardim torna-se escuro, lúgubre, assustador; Os velhotes, os turistas e as crianças ausentam-se, nem vestígios deixam de ter lá passado dias tão bem passados; O colorido acolhedor transforma-se em negro assustador; Os pedestres mudam, são estranhos, parecem ameaçadores, transpiram promiscuidade, respiram práticas menos comuns; os estabelecimentos são outros, discotecas à porta fechada, bares com nomes que sugestionam apenas conhecedores e segredos mal guardados; a tarifa de estacionamento mantém-se exorbitante mas ainda custa mais de noite.O “sapo” envergonha os Lisboetas, é local de devaneio e evitável, mas o nome mantém-se... de noite.
Mas lá passam as horas, o sol nasce, e o feitiço cumpre o ciclo, o sapo é beijado pela manhã e retoma a sua postura de Príncipe, Real."
A inspiração, bem como o tempo disponível não tem abundado, mas de qualquer forma fui ao fundo do baú buscar este meu texto já quase perdido na minha memória.
Espero que gostem tanto de o ler como eu gostei de o escrever.
"O Jardim do Príncipe Real, situado na Rua da Escola Politécnica, como quem vem do Rato em direcção ao Chiado, ou vice-versa, é um local com dupla personalidade. Um autêntico local esquizofrénico, o Príncipe Real muda do dia para a noite.
De dia, o Príncipe, no meio de uma rua movimentada, entre prédios antigos de média estatura, emerge dum jardim no centro de Lisboa. O esverdeado das plantas e arvoredo mistura-se com o colorido das fachadas dos ministérios, universidades, instituições e casas, para dar a este local um colorido urbano raro nas cidades de hoje em dia.O típico quiosque, em que todos sabem o nome do proprietário mas que o usam sem grande responsabilidade; a feira de livros usados que teima em aparecer para conceder o charme de tempos perdidos Lisboetas; os jogos intensos e controversos dos velhotes nas mesas de jogo; o “brincar-na-areia” de algumas crianças sob o olhar atento das mães; os turistas maravilhados com o sossego e o retiro em pleno coração cosmopolita; os parquímetros “emelianos” guardados pelos “arrumadores”, uma dupla ameaça aos bolsos dos condutores.O Príncipe orgulha os Lisboetas, é local de referência, imponente como o próprio nome indica... de dia.
Ao final do dia, a transformação começa a ocorrer. As instituições fecham as suas portas, o quiosque encerra suas bancas, os velhinhos apressam-se para ver o Jornal Nacional da TVI, a mutação inicia-se - com o por do sol - mas só se completa quando a escuridão é uma realidade.
De noite, termina a alteração, o Príncipe vira sapo. O jardim torna-se escuro, lúgubre, assustador; Os velhotes, os turistas e as crianças ausentam-se, nem vestígios deixam de ter lá passado dias tão bem passados; O colorido acolhedor transforma-se em negro assustador; Os pedestres mudam, são estranhos, parecem ameaçadores, transpiram promiscuidade, respiram práticas menos comuns; os estabelecimentos são outros, discotecas à porta fechada, bares com nomes que sugestionam apenas conhecedores e segredos mal guardados; a tarifa de estacionamento mantém-se exorbitante mas ainda custa mais de noite.O “sapo” envergonha os Lisboetas, é local de devaneio e evitável, mas o nome mantém-se... de noite.
Mas lá passam as horas, o sol nasce, e o feitiço cumpre o ciclo, o sapo é beijado pela manhã e retoma a sua postura de Príncipe, Real."
1 Comments:
At 8:17 am,
Anonymous said…
Quando era criança bem criança ainda , a minha mãe, " dondoca" que era levava-me em passeio pela mão, da rua da misericórdia muito até acima, do jardim de s. pedro de alcântara até ao royal prince. Levava. Enquanto aguardávamos que meu pai desse por encerrado o labor de mais um dia de trabalho, quando desse. Mas nós tínhamos todo o tempo do mundo.E por lá ficávamos as duas, pelo royal prince, a ver a vida sem pressas brincar ao pião e às corridas de triciclo, por debaixo do velhinho e central cedro-do-buçaco, magnífico.Muitos anos depois, o mesmo pasmo, o quase igual assombro ensimesmado: César Monteiro às voltas com as meninas imberbes. A contas com a vida. Vuvu sem volta a dar- lhe. Os outros velhos da mesa da batota. Muitos anos depois, a noite, os Trumps, os Finalmente do descontentamento de muita gente. E a convicção de que o meu, o nosso royal prince, de noite, não é lúgubre, assustador. É...outro. - "Como aliviar a dor do que não foi vivido? "- pergunta o teu, nosso, Drummond. Esses seres estranhos de que falas dão a mesma resposta que ele. Querem o mesmo :-"A resposta é simples como um verso:Se iludindo menos e vivendo mais!!!". Enfim, por vezes vive- se iludido.
shalom !
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